6 de março de 2016

Cavaleiro de Copas



Não se pode acusar Terrence Malick de ser um tarefeiro; cunho pessoal e visão estética nunca faltaram aos seus filmes. Cavaleiro de Copas/Knight of Cups (2015) mostra uma abordagem estilística reconhecível por quem viu The Tree of Life (2011) e A Essência do Amor/To the Wonder (2012), os filmes da fase pletórica de Malick (cinco longas-metragens em cinco anos, incluindo uma por estrear e uma em pós-produção), que se seguiu à sua fase parcimoniosa (quatro longas-metragens em trinta e dois anos). Esta abordagem caracteriza-se por movimentos de câmara vertiginosos, fragmentação da estrutura cronológica e dissonância entre a banda sonora e a imagem. O conteúdo, esse, relaciona-se sempre com o significado da vida, as consequências das acções e as recordações e o arrependimento que tais acções suscitam. Sente-se na maneira como Malick filma uma intenção de superar a distinção entre a forma e o conteúdo, mas esse propósito acaba por redundar numa submissão do enredo e das suas implicações morais à estética que o cineasta imprime. O que permanece depois do visionamento de Knight of Cups é uma sucessão de imagens e situações fugidias, independentes dos dilemas de consciência do protagonista (Christian Bale, um argumentista de Hollywood atormentado por problemas familiares e sentimentais e pela vacuidade da vida em geral) e do substrato filosófico/esotérico em que cabem The Pilgrim’s Progress, o Tarot e uma associação implícita à Divina Comédia («Nel mezzo del cammin…»). Apesar de ser menos grandiloquente do que The Tree of Life (felizmente, não há um único dinossáurio entre o elenco) e menos irritantemente superficial do que To the Wonder, e ainda que não faltem momentos genuinamente belos e surpreendentes, Knight of Cups confirma o beco sem saída por onde Malick parece ter voluntariamente enveredado. O facto de esse percurso resultar de uma tentativa de inovar e superar códigos e cânones só é paradoxal na aparência.