11 de setembro de 2016

Na Cave



O que terá acontecido ao filme Hitchcock/Truffaut, de Kent Jones (2015), com estreia prevista para Setembro? Não se sabe. Além disso, quando se consulta a lista de estreias até ao fim deste mês em Portugal, parece não haver um único título capaz de convencer o Cinéfilo Preguiçoso a deslocar-se a uma sala de cinema. Restam os DVDs, mas às vezes fazem-se compras que depois suscitam arrependimento. Se um dia, por falta de espaço, o Cinéfilo Preguiçoso decidir livrar-se de alguns filmes, o documentário Na Cave, de Ulrich Seidl (2014), parece um forte candidato à eliminação, logo seguido por Chocolate, de Lasse Halström (2000), que um dia veio de graça com um jornal. O que há nas caves dos austríacos filmados por Seidl? Coisas bizarras, mas francamente desinteressantes: colecções de objectos relacionados com Hitler, carreiras de tiro onde se desenrolam conversas racistas, troféus de caça, equipamento para práticas sadomasoquistas, bonecos representando bebés de modo bastante realista, móveis que foram «muito caros». Como fantasmas tão insistentes que acabam por parecer inofensivos, os proprietários das caves vão reaparecendo ao longo do filme, geralmente filmados em planos frontais repetitivos e monótonos, reencenando práticas e dizendo inanidades. Apesar de haver diferenças importantes entre as diversas figuras que se prestam a ser filmadas, estas são equiparadas, como se houvesse entre elas uma ligação explicativa mais abrangente que as transforma em actantes da mesma doença. O filme parece conter uma advertência moral (cuidado com as coisas subterrâneas), mas não chega propriamente a ser satírico, por ser tanta a mediocridade documentada. Cai no ridículo quando tenta que o espectador partilhe a sua tentativa de ridicularizar os intervenientes. Fica-se  a pensar se o que não é subterrâneo na Áustria não será muito mais perigoso. Quem conseguir chegar ao fim do filme precisará de um antídoto para reanimar os neurónios atordoados: para um retrato inteligente e realmente mordaz da Áustria, recomenda-se a leitura da obra de Thomas Bernhard.