9 de outubro de 2016

Um Editor de Génios


Baseado no livro Max Perkins: Editor of Genius, de A. Scott Berg, Um Editor de Génios (2016), filme de estreia do encenador Michael Grandage, gira em torno da história do editor da Scribner Maxwell Perkins (Colin Firth), que descobriu e trabalhou com escritores como Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald ou Thomas Wolfe (Jude Law), o outro protagonista do filme. As actividades de ler, escrever, editar, rever e discutir correcções ou cortes num texto podem ser cinematográficas? A julgar por este filme, nem por isso. Sem saberem como abordar visualmente esta dimensão tão importante da vida das personagens, o realizador e o argumentista John Logan investiram tudo no contraste fácil entre, por um lado, o clichê do escritor espalhafatoso que supostamente escreve como vive e sobre o que vive e, por outro, o editor calmo, metódico e rigoroso, totalmente obcecado pelo trabalho. Esta opção transforma o que poderia ser um filme interessante sobre escrita e edição num festival de interpretações previsíveis: Colin Firth fazendo de si próprio; Jude Law não só ainda mais canastrão e irritante do que é habitual, mas também dado a acessos de incontinência verbal e gestual muito para lá daquilo que a personagem pedia. As cenas em que alguém escreve ou edita são fugazes e decorativas, funcionando mais como separadores do que como motor da narrativa. Apesar de ser apresentado como escritor prolífico, Thomas Wolfe raramente é mostrado a escrever. O mais interessante de Um Editor de Génios acaba por ser a reconstituição histórica de Nova Iorque na época da Grande Depressão, associada à evocação de uma geração de escritores com vidas e estilos divergentes, mas com fins igualmente trágicos. A oposição mais irónica é aquela que se estabelece entre Thomas Wolfe e Scott Fitzgerald: o primeiro enquanto escritor torrencial que produz sucessos de vendas; o segundo como alguém que, além de se debater com dificuldades para conseguir escrever e sobreviver, é mal recebido pelos contemporâneos (na única sequência do filme que suscita um sorriso, Scott Fitzgerald lamenta o facto de no ano anterior ter recebido pouco mais de dois dólares de direitos por The Great Gatsby). Obviamente, a ironia reside no facto de actualmente quase ninguém se lembrar de Thomas Wolfe, enquanto Fitzgerald continua a ser estudado e celebrado. É sempre bom que o cinema nos recorde que adivinhar o futuro da literatura é uma tarefa delicada.