14 de maio de 2017

Counting



Visto no IndieLisboa, o documentário Counting (2015), de Jem Cohen, assume a forma de um diário que compila cenas registadas em várias cidades do mundo (por exemplo, Nova Iorque, Moscovo e Istambul – não falta uma curtíssima cena no Porto), dispensando comentários ou qualquer tentativa explícita de contextualização. Fazendo recordar os diários de viagem de Jonas Mekas, Cohen adopta aqui um registo aparentemente neutro e antiprogramático, com elementos esparsos de diário íntimo e de ensaio político-social (por exemplo, a referência às tentativas de construir um centro comercial na praça de Istambul que tem sido cenário de manifestações, ou às escutas levadas a cabo pela National Security Agency, nos EUA, em nome da segurança nacional). A impressão geral é a de um filme a cujas escolhas de montagem, divisão em capítulos e escolha de conteúdos parecem ter presidido critérios bastante híbridos, onde entram, em doses muito variáveis, o gosto pessoal, a coerência estética, a carga afectiva e a consciência política; estes critérios nunca são assumidos e podem parecer opacos ou arbitrários para o espectador. Counting vale também (ou sobretudo) pelas cenas de vida urbana anónima, filmadas com a naturalidade de um turista atento à beleza soturna de ruas enlameadas, parques de diversão cobertos de neve ou fitas magnéticas enroladas em ramos de árvores, que se limita a filmar o que vê como um prolongamento do olhar. Apesar de estarmos longe da complexidade e riqueza do belíssimo Museum Hours (2012), há que saudar a decisão de dar destaque à obra de Jem Cohen na edição deste ano do IndieLisboa.