11 de junho de 2017

Summertime


Nesta semana o Cinéfilo Preguiçoso viu o DVD de Summertime, filme de 1955 realizado por David Lean. Por comparação com as superproduções que se lhe seguiram e que trouxeram fama mundial a este cineasta (A Ponte do Rio Kwai, Lawrence da Arábia, Doutor Jivago), Summertime impressiona pela ligeireza formal e pela relativa simplicidade do enredo, baseado numa peça de sucesso (The Time of the Cuckoo, de Arthur Laurents). Jane Hudson (Katharine Hepburn), uma secretária do Ohio em visita a Veneza, envolve-se com Renato (Rossano Brazzi), um antiquário italiano que esconde inicialmente ser casado e que, quando a verdade vem ao de cima, critica Jane tanto por não aproveitar aquilo que a vida lhe oferece como por aspirar a um ideal inatingível. O filme distingue-se pela franqueza com que os protagonistas discutem aspectos sentimentais e pela frontalidade com que Lean nos mostra uma mulher e um homem em busca de amor e tão agudamente conscientes disso mesmo. Visualmente, Summertime parece uma apologia do Technicolor: Veneza é filmada em gloriosos tons de pastel e em enquadramentos que não fogem ao pitoresco (as gôndolas, a Praça de São Marcos e os canais são omnipresentes) e que podiam ser o resultado das filmagens que Jane, empunhando uma câmara, vai fazendo ao longo da sua estadia, como num filme dentro do filme que vai sendo abandonado à medida que a relação com Renato passa a absorver a sua atenção. É difícil não comparar este filme belo e tocante com Brief Encounter (1945), que, tendo em comum o tema do encontro sem futuro entre duas personagens sentimentalmente insatisfeitas, confirma que Lean se sentia tão à vontade com estes registos mais minimalistas como com os frescos históricos monumentais que lhe trouxeram visibilidade internacional e dois óscares de melhor realizador. Os rohmerianos também poderão encontrar alguns pontos em comum entre o percurso de Jane e o de Marie Rivière em O Raio Verde (1986), outra mulher habituada à solidão e ao sentimento de estar a mais, outra personagem entregue a deambulações estivais em busca de companhia e afecto.