3 de setembro de 2017

Uma Viagem pelo Cinema Francês


No documentário Uma Viagem pelo Cinema Francês (2016), que passou recentemente pelas salas portuguesas e está disponível tanto em DVD como nos videoclubes das operadoras de televisão, o realizador Bertrand Tavernier revisita as obras e pessoas que marcaram o seu percurso pessoal de jovem cinéfilo, crítico, assistente de realização e cineasta, focando-se essencialmente no período entre 1930 e 1970 e em personalidades como Jean Renoir, Jean Gabin e Jean-Pierre Melville. O narrador é o próprio Tavernier, ajudado por depoimentos de numerosos actores, realizadores e técnicos, e são abundantes os excertos de filmes que funcionam como ilustração das características e inclinações dos cineastas abordados. Uma Viagem pelo Cinema Francês pouco traz de novo do ponto de vista formal, mas possui mérito pela homenagem que presta a um período riquíssimo do cinema francês, que era, e continua a ser, mau grado as crises periódicas, um caso de pujança criativa e de sustentabilidade económica que pode ser considerado singular no contexto europeu. O olhar de Tavernier é o de um crítico: apesar da paixão evidente que o move, resiste à tentação de transformar o documentário numa elegia sentimental e mantém uma postura analítica e didáctica, que, contudo, evita o pedantismo. Além disso, consegue um bom equilíbrio entre a exploração do seu percurso pessoal e a representatividade histórica, apesar do destaque dado aos realizadores de quem foi mais próximo, em particular Melville e Claude Sautet. Este equilíbrio só é posto em causa quando Tavernier se permite derivas extracinematográficas, perfeitamente dispensáveis, sobre as posições políticas e as personalidades de Renoir e de Gabin. São ainda de louvar o destaque atribuído a realizadores caídos no esquecimento, como Edmond T. Gréville, e a aspectos normalmente menosprezados neste tipo de documentários, como a composição de música para o cinema e a conservação de filmes (a dada altura, Tavernier narra um episódio rocambolesco que envolve o resgate de filmes antigos que iam ser reciclados para o fabrico de pentes…) Sem dúvida, os fãs do cinema francês encontrarão neste documentário alguma informação interessante e invulgar não só sobre personalidades e filmes emblemáticos, mas também sobre figuras e obras mais obscuras, a descobrir ou redescobrir.