12 de outubro de 2015

5 x 2



Uma vez que a estreia em Portugal do último filme de François Ozon, Une Nouvelle Amie, tem vindo a ser repetidamente adiada – enésimo exemplo da falta de respeito que certos distribuidores demonstram pelos espectadores –, o Cinéfilo Preguiçoso decidiu rever 5 x 2 (2004) e não esqueceu a devida vénia à boa alma que inventou o DVD. Ozon é um cineasta hiperactivo e ecléctico cujo apetite por temas controversos lhe trouxe alguma fama de irreverente e até revolucionário. Contudo, a sua filiação remete-nos para o melodrama e para a Nouvelle Vague, e a sua abordagem e registo são essencialmente clássicos e muito devedores do cinema de género (thriller, musical). 5 x 2 pode ser descrito como o retrato de um casamento frágil. O facto de o filme ser narrado ao arrepio da sequência cronológica dos eventos nada acrescenta ou retira aos méritos ou impacto do filme, mas tem a vantagem de anular, logo à partida, qualquer interrogação sobre o desfecho, permitindo ao espectador concentrar-se nas personagens e no enredo – que, diga-se em abono da verdade, não requer grande dose de perspicácia. Se exceptuarmos Valeria Bruni-Tedeschi, excelente como sempre, o que fica de 5 x 2 é a história banal de uma mulher e de um homem que se unem, têm um filho e se separam sem que qualquer razão evidente o justifique. Talvez Ozon pretendesse precisamente erigir essa arbitrariedade em tema principal, mas o resultado final fica claramente aquém de Swimming Pool, Sous le Sable, Jeune & Jolie ou Dans la Maison.