25 de junho de 2017

O Sentido do Fim


Ver um filme baseado num livro de um autor estimado suscita inevitavelmente comparações que raramente são lisonjeiras para os responsáveis pelo filme. O Cinéfilo Preguiçoso nunca leu O Sentido do Fim, de Julian Barnes, mas admira o autor e alimentava expectativas quanto à adaptação realizada em 2017 por Ritesh Batra, cineasta indiano que obteve um sucesso colossal com a longa-metragem de estreia (The Lunchbox, 2013). O tema principal do enredo é a falibilidade da memória e a tendência para distorcer ou ocultar acontecimentos biográficos, de forma mais ou menos voluntária. A personagem principal, Tony Webster (Jim Broadbent), um londrino reformado e divorciado que se ocupa de uma pequena loja de máquinas Leica, força um reencontro com uma ex-namorada, Veronica, quando recebe um legado inesperado da mãe desta. A reaproximação com Veronica (interpretada por Charlotte Rampling, que ofusca tudo e todos quando entra em cena, como habitualmente) obriga-o a confrontar episódios dolorosos do seu passado. O filme tenta ao mesmo tempo gerir as revelações que vão sendo feitas sobre o passado das personagens (essencialmente mediante doses generosas de analepses), ilustrar as repercussões das investigações de Tony na sua vida actual (sobretudo nas relações com a ex-mulher, com a filha e com o neto recém-nascido) e encaminhar a narrativa para um final marcado pelo apaziguamento. O resultado é um filme competente, mas que se dispersa demasiado por estas diversas frentes, levando a que a caracterização das personagens e das relações entre elas seja bastante incipiente. O final, em particular, soa a falso: a reconciliação entre Tony, os seus próximos e o mundo em geral (nem falta uma chávena de café oferecida ao carteiro, que ele antes ignorava) não convence e revela uma tentativa de forçar algo parecido com um final feliz tradicional, como se confrontar o indizível fosse suficiente para apagar os traumas do passado e virar a página. Apesar da complexidade do argumento e de um punhado de boas interpretações, O Sentido do Fim é um filme dispensável.